Domingo com prosa
Vai aqui um texto que postei ontem no Tantaprosa, que fala sobre homens e mulheres, a mesma ladainha de sempre!
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Estava ontem tentando escrever um poema. Às vezes aqueles fluxos de inspiração nos enchem de coisas a dizer, mas ontem a coisa estava meio empacada. Queria falar do peito aberto, das pessoas que se colocam sem barreiras pros sentimentos, sem bloqueios, sem medo.
Hoje, por coincidência, no episódio de Sex and the City (série que está sendo reprisada na Fox), a protagonista falava exatamente disso. "Quão perigoso é ter um coração aberto?". Pelo jeito, perigoso demais.
Pra quem não conhece a série, a protagonista, Carrie, é jornalista e com mais três amigas, fala da vida em NY, de sexo, relacionamentos, moda, sapatos, mais sexo, mais moda e um pouquinho sobre a vida americana. É uma série bem superficial, mas com alguns momentos "epifânicos", se é que se pode colocar assim.
Esse episódio de hoje é um deles. Carrie passou todas as temporadas do sitcom às indas e vindas com um homem apelidado Mr. Big. Ela era claramente apaixonada por ele, mas como todo homem, Mr. Big tinha "commitmment issues". É a expressão inglesa para "medo de compromisso" ou "problemas com comprometimento". Algo que todo homem teve, tem ou terá na vida.
Acontece que Big teve um problema coronário e passou por uma angioplastia. Carrie toda vez que o visitava no hospital começava a chorar. Alguns dias depois, ao ligar pro hospital, Carrie se surpreendeu com a notícia que ele havia tido alta, e foi procurá-lo no hotel em que ele usualmente se hospedava. Vestida de Stripper-vendedora-de-balas, ela fica entretendo big com dominós e conversas triviais.
Big acaba se sentidno mal, com uma febre alta, e Carrie fica cuidando dele. Num momento de delírio, ele abre seu coração para Carrie perguntando o por quê de não estarem juntos, já que se gostavam tanto. Ele diz pra ela "a vida é muito curta", e eles adormecem. Na manhã seguinte, Big acorda já com o coração "fechado" de novo e Carrie diz pra si mesma "a vida é muito curta", percebendo que não adiantava nada amá-lo se ele nunca estaria aberto pra ela.
Por mais piegas que seja essa cena, esse episódio, essas falas, essa é uma reflexão muito importante. "Quão perigoso é ter um coração aberto?". Se fosse fácil, não haveria tantos problemas. Se fosse seguro, não seria tão difícil um relacionamento estável, honesto, duradouro.
Sei que algumas vezes me permiti ter o coração aberto. Na última, o coração escancarado se deparou com um enclausurado. Enquanto um mergulhava de cabeça, o outro se mantinha fechado na seguraça da distância emocional. Sabem aqueles adesivos na traseira do ônibus, "Mantenha a distância"?
Qual é a distância segura para um coração? Quando se aproxima demais de um coração fechado, o estrago pode ser grande. Não se mantém a distância segura, e quando o outro coração freia, não há tempo suficiente para reagirmos e nos resguardarmos. Quando percebemos, já estamos presos nas ferragens, o carro já está todo amassado, os vidros quebrados, e um prejuízo bem grande para o conserto.
E nem por isso deixamos de andar de carro. Após um tempo estamos por aí em algumas ruelas. Depois arriscamos pegar a Rebouças, depois a 23 de maio, a Marginal, a Castello Branco, num crescendo inevitável em busca de encontrar um outro coração na mesma pista, na mesma velocidade. E vamos encontrar muitos! Uns mais rápidos, outros mais lentos, e esse descompasso levará às colisões. Serão só um toquinho, um arranhão, coisa leve. Outros encontros serão grandes acidentes com possíveis (prováveis) ferimentos e cicatrizes. Mas nem por isso vamos deixar de andar de carro.
Continuaremos dirigindo até o dia em que encontraremos a distância segura de andar com um outro coração que esteja no mesmo momento, direção e velocidade que nós. Nessa hora, não haverá mais risco tão grande de choque, e sim a chance de uma viagem tranqüila, sempre, claro, com alguns percalços no caminho, pois buracos e quebra-molas todos teremos pela frente.
Mas quando a viagem começa, é só tentarmos manter o coração aberto...
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