11 dezembro 2007

Resignação

























eram quatro as crianças cheirando cola, as crianças da Elisa. não tinham mais de sete anos, as crianças da Elisa. vi esse projeto de quadrilha a judiar de um cão cego e comer um pão sujo. as crianças da Elisa não têm casa, moram ali mesmo atrás da banca de jornal. com os dentes amarelos fazem três refeições ao dia, o jantar sempre é um resto de sanduíche do Mc' Donald's. os pequenos bandidos, as crianças da Elisa, não roubaram a moça jque passava, apenas pegaram seu celular emprestado. queriam só falar com os pais que não têm. nasceram de um repolho, as crianças da Elisa, seus pais não transaram. encontraram-nas num repolho podre, na lata do lixo. não tem salvação, o bando cheirando cola. as crianças da Elisa não têm salvação.

Um comentário:

Thiago Ponce de Moraes disse...

Oi, Julinha! Pois é. A motivação para traduzir Emily Dickinson veio do meu desespero com as atuais traduções para o português; estas que ignoram tudo: metro, ritmo, rimas, idéias; tudo!

Olha essa tradução (que péssima!) de um tal de Ivo Bender, lá da Federal do Rio Grande do Sul. O livro com essas traduções é o que foi reeditado pela L&PM. Veja lá:

Nunca vi uma charneca,
Nem o mar eu jamais vi:
Sei, porém, a forma da urze
E como há de ser a vaga.

Nunca falei com Deus,
Nem O visitei, no céu, jamais;
Do lugar, porém, tenho tal certeza
Como se lhe conhecesse a carta.

...

Terrível. Essa é vergonhosa...

O Bandeira é um pouco melhor, mas também não dá conta do metro (que é 3, 3, 4, 3 em cada estrofe; ou, para nós, 6, 6, 8, 6) e perde o ritmo completamente a certa altura:

Nunca vi um campo de urzes,
Também nunca vi o mar.
No entanto sei a urze como é,
Posso a onda imaginar.

Nunca estive no céu,
Nem vi Deus. Todavia,
Conheço o sítio como se
Tivesse em mãos um guia.


Enfim. Vou tentar continuar.

Beijos!