26 agosto 2008

"se você não quiser se rebaixar, eu não tenho problema nenhum em fazer por você"...

uma conversa de MSN qualquer........


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Fui na pré-estréia de 'Blindness', do Fernando Meirelles, ontem. Adentrei o mundo de Caras com uma coca-cola na mão, recusei a pipoca gratuita, esbarrei no Daniel Oliveira na entrada da sala, e mergulhei na cegueira branca do cinema. Acompanhada do Thi, do ECINE (lá da Secretaria de Cultura), foram quase três horas de visualização de um dos melhores livros que eu já li.

Provavelmente vai-se dizer muito que o filme estava aquém das expectativas, seja porque não quebrou o paradigma do cinema brasileiro de novo, como já tinha acontecido com 'Cidade de Deus', seja porque o livro não foi tão bem retratado quanto esperavam.

Eu fiquei agradavelmente surpresa com o Ensaio Sobre a Cegueira na tela. Primeiro, porque sou bem contrária ao clichê "uma imagem vale mais que mil palavras". Acho que no caso do cinema, as imagens estão sempre tentando alcançar as palavras espalhadas pelo papel. Isso porque, quando adapta-se um livro, mesmo que curto, é muito difícil reproduzir as páginas de uma história em cenas de segundos.

Por exemplo, toda a reflexão do Saramago sobre a cegueira e a natureza humana que se revela com essa epidemia inexplicável, toda a "filosofação" que se desenvolve no livro, não é bem trazida pro filme. Acho que iria ser um filme extremamente chato se não se prendesse mais à história do que à filosofia. Não que não haja questionamentos, nem pontos profundos. Mas o "overall" é mais raso e linear.

Em segundo lugar, todo roteiro adaptado é um desafio. As pessoas todas têm na sua cabeça como deveriam ser os personagens, os lugares, o ritmo de narração. Esse até foi um defeito, acabou ficando meio corrido... Mas visualmente o Meirelles inovou de novo. São vários takes, sem exagero, na medida certa, sem foco, no escuro, ou com muita luz. Provocam sensaçoes físicas na platéia. Temos um pequeno gostinho do que os personagens estão passando.

Claro que nem tudo são flores. Me desgostou um pouco o Gael como rei da Ala 3 (ou Camarata 3), já que na minha cabeça ele seria uma figura horrenda, daquelas que só de olhar temos náusea. Não seria lindo nem tão educado, não seria o Gael. A Julianne Moore (que estava ontem lá, ui!) também nem foi taaanto o que eu esperava. O Mark Ruffalo, por outro lado, tava super bem. A angústia dele parecia de quem estava de verdade passando por aquilo. E a Alice Braga achei bem ruinzinha...

Sobre a fotografia, achei perfeita. Não acho que mudaria nada. Foi bem fantástico ver a mudança de cenas filmadas em cidades diferentes formando um único lugar não-identificável, que poderia ser Paris, França ou Bahia (como diria minha mãe). A Direção também, obviamente, é fantástica. Gostei como exploraram todo o jogo de luzes e sombras, bem diferente. A parte da Direção de Arte, por outro lado, poderia ter arriscado mais, e sujado mais as locações. Nisso concordo com o Thi, acho que no livro tudo é bem mais sujo e nojento...

Por fim, como leiga total, dou nota 8 pro filme. Muito bom, three thumbs up.

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