"se você não quiser se rebaixar, eu não tenho problema nenhum em fazer por você"...
uma conversa de MSN qualquer........
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Fui na pré-estréia de 'Blindness', do Fernando Meirelles, ontem. Adentrei o mundo de Caras com uma coca-cola na mão, recusei a pipoca gratuita, esbarrei no Daniel Oliveira na entrada da sala, e mergulhei na cegueira branca do cinema. Acompanhada do Thi, do ECINE (lá da Secretaria de Cultura), foram quase três horas de visualização de um dos melhores livros que eu já li.
Provavelmente vai-se dizer muito que o filme estava aquém das expectativas, seja porque não quebrou o paradigma do cinema brasileiro de novo, como já tinha acontecido com 'Cidade de Deus', seja porque o livro não foi tão bem retratado quanto esperavam.
Eu fiquei agradavelmente surpresa com o Ensaio Sobre a Cegueira na tela. Primeiro, porque sou bem contrária ao clichê "uma imagem vale mais que mil palavras". Acho que no caso do cinema, as imagens estão sempre tentando alcançar as palavras espalhadas pelo papel. Isso porque, quando adapta-se um livro, mesmo que curto, é muito difícil reproduzir as páginas de uma história em cenas de segundos.
Por exemplo, toda a reflexão do Saramago sobre a cegueira e a natureza humana que se revela com essa epidemia inexplicável, toda a "filosofação" que se desenvolve no livro, não é bem trazida pro filme. Acho que iria ser um filme extremamente chato se não se prendesse mais à história do que à filosofia. Não que não haja questionamentos, nem pontos profundos. Mas o "overall" é mais raso e linear.
Em segundo lugar, todo roteiro adaptado é um desafio. As pessoas todas têm na sua cabeça como deveriam ser os personagens, os lugares, o ritmo de narração. Esse até foi um defeito, acabou ficando meio corrido... Mas visualmente o Meirelles inovou de novo. São vários takes, sem exagero, na medida certa, sem foco, no escuro, ou com muita luz. Provocam sensaçoes físicas na platéia. Temos um pequeno gostinho do que os personagens estão passando.
Claro que nem tudo são flores. Me desgostou um pouco o Gael como rei da Ala 3 (ou Camarata 3), já que na minha cabeça ele seria uma figura horrenda, daquelas que só de olhar temos náusea. Não seria lindo nem tão educado, não seria o Gael. A Julianne Moore (que estava ontem lá, ui!) também nem foi taaanto o que eu esperava. O Mark Ruffalo, por outro lado, tava super bem. A angústia dele parecia de quem estava de verdade passando por aquilo. E a Alice Braga achei bem ruinzinha...
Sobre a fotografia, achei perfeita. Não acho que mudaria nada. Foi bem fantástico ver a mudança de cenas filmadas em cidades diferentes formando um único lugar não-identificável, que poderia ser Paris, França ou Bahia (como diria minha mãe). A Direção também, obviamente, é fantástica. Gostei como exploraram todo o jogo de luzes e sombras, bem diferente. A parte da Direção de Arte, por outro lado, poderia ter arriscado mais, e sujado mais as locações. Nisso concordo com o Thi, acho que no livro tudo é bem mais sujo e nojento...
Por fim, como leiga total, dou nota 8 pro filme. Muito bom, three thumbs up.
26 agosto 2008
21 agosto 2008
beautiful mess
far far, there's this little girl
she was praying for something to happen to her
everyday she writes words and more words
just to speak out the thoughts that keep floating inside
and she's strong when the dreams come cos' they
take her, cover her, they are all over
the reality looks far now, but don't go
how can you stay outside?
there's a beautiful mess inside
how can you stay outside?
there's a beautiful mess inside
oh oh oh oh
far far, there's this little girl
she was praying for something good to happen to her
from time to time there're colors and shapes
dazeling her eyes, tickeling her hands
they invent her a new world with
oil skies and aquarel rivers
but don't you run away already
please don't go oh oh
how can you stay outside?
there's a beautiful mess inside
how an you stay outside?
there's a beautiful mess inside
take a deep breath and dive
there's a beautiful mess inside
how can you stay outside?
There's a beautiful mess
beautiful mess inside
oh beautiful, beautiful
far far there's this little girl
she was praying for something big to happen to her
every night she ears beautiful strange music
it's everywhere there's nowhere to hide
but if it fades she begs
"oh lord don't take it from me, don't take it yourselves"
Postado por Julia às 06:42 2 comentários
20 agosto 2008
19 agosto 2008
18 agosto 2008
a culpada pela barriga proeminente é a cerveja
e pela impotência, a mulher
pelas artérias entupidas, a manteiga
e pelas safenas, a mulher
pelo enfisema pulmonar, o cigarro
pela falta de ar, a mulher
maridos são sempre inocentes
Postado por Julia às 02:14 1 comentários
15 agosto 2008
Torpeza?
torpor
desperta maldade ímpeto planejado
desperta crueldade com palavras que se espalham com vento fogo folha
seca
queimada
trago à tona o pior em você e faço isso sem saber, esperando que cada letra não se torne mais uma arma contra mim
cada elo se contamina doentiamente, e o vírus
fui eu que incubei
selvageria
tremo salgada e silencio para que o universo pare de se expandir
mas o universo continua se expandindo
e eu já não posso mais impedi-lo
todos se sujam, inofensivamente, e a doença
fui eu que passei
brutalidade
surto irrupção epidemia
só o imprestável acorda
e eu já não tenho mais vacina
quem provoca o vento, não sobrevive para ver a tempestade
Postado por Julia às 05:56 0 comentários
Da tristeza e dos insultos
É difícil se sentir injuriada e não poder se defender. Me lembro de um texto do Jhering, "A Luta pelo Direito". Sei que o juridiquês estava banido deste blog, mas este texto é especialmete importante para mim e creio que é bem importante conhecê-lo. Fiz um trabalho sobre ele, e como epígrafe coloquei trecho do poeta Eduardo Alves da Costa:
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Depois de reler o poema, escrevi isso...
Eu não quero que sinta pena ou raiva ou qualquer outra coisa. Quero somente que me leia com o coração aberto.
Fiquei preocupada, nervosa, aliviada. Não a quero mal, muito pelo contrário.
Escrevi num momento de ódio. Não disse nada sobre ela. A outra, sim, estava muito triste (e eu também, afinal, era meu amigo).
Não pedi que o ignorassem. Nada tinha que ver com o problema. Mas decidiram me chamar de tudo de ruim que há no mundo. Porque eu tentei protegê-la.
Ninguém esperou o ônibus partir. E não foi culpa minha.
Nunca xinguei ninguém. Nem insultei ninguém. Não chamei ninguém de amendoim ou cachorro. Foi tudo muito baixo, e se alguém tem que estar triste, sou eu. Sei que não mereço. Sei que fizemos o nosso melhor.
Me disseram que não devemos nos esquecer dos que estão a nossa volta. E foi exatamente o que eu fiz. Fiz para que não nos esquecêssemos de protegê-la.
Sinto muito que tudo chegou a esse ponto. Pensei que havia respeito humano entre nós, mas estava errada. Eu os respeitei, mas fui desrespeitada. E isso dói muito
Tristeza nem começa a descrever o que sinto agora.
Postado por Julia às 03:05 0 comentários
14 agosto 2008
Rose from the dead?
No, just from the ICU...
O blog ainda não morreu... ainda. Se bem que esteve correndo risco de morte nos últimos meses né? Isso que dá trabalhar por um salário ridículo.
Voltando ao objetivo do blog, posto alguns poemas do Estimado Cliente, livro do Rodrigo Flores, que eu traduzi e que provavelmente vai sair pelo Demônio Negro.
I.
Que quiçá dizer distância
seja a maneira de
enclausurar a
distância
a maneira do quiçá
da clausura
Que quiçá representar
a distância
seja impossível na Cidade
porque esta retém
as clausuras
em compartimentos de
impossibilidade
em maneiras claudicantes
em reiterações de quiçás
que não de afirmações
que não de figuras ou figurações
que não de legitimidade
mas de revestimentos
de dúvidas que são quiçás
Não dúvidas
senão discursos da dúvida
módulos do não
edificações do não
É dizer
figurar a distância
sua plenitude
é uma
imagem contingente
revestimento opaco
recorrente
tralha mística
Um caminhar é a distância
Uma imagem do pedestre é a distância
Uma negação da imagem do caminho é a
distância
A clausura do não do que caminha é uma
representação da Cidade
II.
Se procede a dizer que
a distância é a distância
é a distância um país Se procede
a omitir que um país não tem corpo
tem distância Corpo ausente Se
procede a representar um país
corpo ausente
distância
ausência de representação
Se procede
a corporificar
uma representação
um país
a distância
Carpe Diem
procede a se ausentar
centro da Crueldade
III.
Haverá que reconsiderar
As projeções
da distância
sobre o corpo
Haverá que projetar
as reconsiderações
os corpos
os elementos da distância
suas plenitudes
seus módulos de dizer e calar
seus procedimentos
claudicantes
seu Quiçá
IV.
A distância não é
Distância Com
tém migrações
corpos países
reiterações
de módulos do Não
quiçá legitimações
de impossibilidade
quiçá
Não
Postado por Julia às 12:41 0 comentários